O sol ardia implacável queimando a face de Ant?nio enquanto a motocicleta trepidava pelo solo seco comum daquela regi?o, a sede castigava sua garganta trazendo um gosto amargo à boca, ele n?o bebia água desde o ribeiro da antiga divisa. Nessa altura da viagem, já era possível avistar um pouco mais de vegeta??o, árvores distorcidas que decoravam a paisagem árida, aquilo era o cerrado, admirou-se, percebendo que o agreste havia ficado para trás dando espa?o para a nova vegeta??o que se destacava.
Destemido, ele viajava pela estrada poeirenta acompanhado do ronco do motor da sua estimada Fat Boy, que ressoava com a sua determina??o de um homem forjado pela adversidade. Cada vez mais longe de casa, temia pela sua vida, pois sabia que aquela miss?o era perigosa. O território da Nova Brasil era conhecido por sua brutalidade e pela rigidez de suas for?as militares. Mas ele n?o tinha escolha, precisava atravessar aquelas terras hostis e buscar aliados na Terra Nova, para enfrentar o monarca impiedoso que governava o Mandacaru.
Driblando a aridez da jornada, seu corpo provava a resistência de anos de treinamento perigoso e batalhas incessantes. As cicatrizes que marcavam sua pele eram testemunhas mudas de sua bravura. Seus olhos castanhos intensos, ardendo como brasas, estavam fixos no horizonte, onde o futuro incerto o aguardava.
Ao se aproximar do antigo Rio Paranaíba, o ar foi ficando lentamente mais úmido e pesado, um contraste triste com a realidade de sua terra natal. Desde o colapso da água no ano de 2045, a realidade do Mandacaru piorava a cada dia, a escassez hídrica e a fome assolavam a regi?o de uma forma feroz. Como se n?o bastasse a realidade miserável do seu povo, eles ainda conviviam com o governo do tirano Inácio, um monarca autoproclamado que há anos controlava o acesso à água potável da regi?o.
Quando chegou diante do veio de água do Paranaíba, ele desceu do seu veículo e escolheu um lugar para acampar, n?o demoraria para anoitecer e precisava descansar. Baixou seu cantil empoeirado no ribeiro lamacento na tentativa de conseguir um pouco mais de água e observando aquele líquido turvo, n?o conseguia imaginar que anos atrás naquele lugar corria um rio largo e feroz, muitas vezes responsável por cheias que carregavam árvores pelo caminho. Seu av? sempre contava histórias sobre sua infancia onde o rio havia subido mais de 10 metros, tomando lugar de casas e planta??es; mas hoje n?o passava de um regato humilde. N?o havia uma explica??o plausível para o que aconteceu no ano do colapso, apenas histórias desencontradas que narram a realidade de um país dividido pela política e cada vez menos consciente com seus recursos naturais. Os mais velhos falavam sobre um grande vírus que assolou o mundo trazendo um cisma geral sobre o governo do antigo país, dividindo a popula??o e culminando na guerra civil de 2055.
Ant?nio aproveitou a noite quente e a água disponível para se limpar, se livrou das botas pesadas e da jaqueta de couro; a cal?a jeans e a camiseta foram rusticamente lavadas e penduradas em uma árvore retorcida. Descendo pelo ribeiro, encontrou um pequeno po?o que cobria até a metade do seu corpo, e relaxou na água morna do regato. Sua barriga roncava reclamando da falta de alimento do último dia, ent?o ele se dirigiu para perto da pequena fogueira improvisada onde planejava aquecer os suprimentos da mochila. Incomodado com barulhos estranhos, o guerreiro treinado podia sentir os olhos invisíveis do inimigo observando cada movimento. De repente, um grupo de soldados emergiu da vegeta??o com armas apontadas para ele.
- Identifique-se! - gritou o coronel, um homem alto de postura ereta, com cabelo negro cortado curto. Era Marcos, um militar conhecido por sua lealdade à junta militar da Nova Brasil.
Ant?nio ergueu as m?os, exibindo as palmas abertas.
- Meu nome é Ant?nio, estou apenas de passagem, buscando emprego no estado de S?o Paulo. - Sua voz era firme, sem tra?o de medo.
Marcos estreitou os olhos, avaliando o homem à sua frente. Seus instintos militares lhe diziam para ser cauteloso, mas havia algo no olhar de Ant?nio que despertava sua curiosidade.
- Você n?o é daqui, estamos observando desde os limites da fronteira baiana, tem autoriza??o pra cruzar o estado viajante?
Ant?nio enrijeceu sem deixar transparecer seu nervosismo. Ele n?o possuía autoriza??o para cruzar o estado e muito menos para deixar o Mandacaru. Sabia que n?o poderia revelar seus objetivos e muito menos sua origem. Eles estavam em 12, quatro à sua frente e o restante escondido entre a vegeta??o, se conseguisse alcan?ar a moto poderia fugir, mesmo que fosse nu e com fome, ele ainda tinha roupas no baú de carga e alguns suprimentos. Sem tempo para hesita??o, ele desarmou o homem à sua frente e o rendeu tomando como refém.
- Eu n?o quero problema, só quero chegar a S?o Paulo, mas se tentarem me impedir eu atiro na cabe?a dele.
Seria um ótimo plano, se n?o fosse por um 13o elemento e uma coronhada na cabe?a de Ant?nio. Quando ele acordou, estava amarrado na carroceria de um caminh?o, continuava nu, uma vulnerabilidade angustiante, levando em considera??o o sadismo dos militares da Nova Brasil. Sua nuca latejava ainda molhada pelo sangue do golpe, seu corpo doía, provavelmente pela violência sofrida enquanto estava desmaiado. Ele tentou observar tudo que poderia ajudá-lo a sair daquela situa??o, quatro militares o acompanhavam ali, um deles era o coronel, a tarjeta de identifica??o da farda constava apenas o sobrenome Assis, os olhos se cruzaram e Ant?nio pode ver o estrago do soco no rosto do militar. Um frio percorreu sua espinha imaginando que provavelmente a violência recome?aria agora que ele estava acordado, mas para sua surpresa, o homem de olho roxo o encarou e fingiu n?o perceber enquanto conversava com outro elemento ao seu lado.
- Vamos levá-lo para a capital, inteiro de preferência. N?o vai adiantar nada se ele chegar lá morto ou sem condi??es para contar o que estava fazendo por aqui.
- Coronel Marcos está amolecendo o cora??o. - falou o outro homem em tom de zombaria.
- N?o é isso, n?o perceberam as marcas e tatuagens dele? Ele também é um guerreiro. Imagina o problema que seria se descobrissem que matamos um espi?o sem a oportunidade de interrogá-lo.
- Mas ent?o por que está carregando a moto dele com tanto zelo coronel? Quer devolver pra família matar a saudade? - o mesmo homem retrucou, enquanto todos riram com desdém. Ant?nio observou bem a fisionomia dele, rosto magro e olhos claros, a boca farta segurava um cigarro de lado, a express?o maníaca de um psicopata, a tarjeta mostrava o sobrenome Dias.
- Vamos levá-lo para a capital. Vamos ver o que o general tem a dizer sobre isso. - ordenou Marcos, sem desviar os olhos de Ant?nio.
Olá meus queridos leitores! Ant?nio iniciou sua jornada em busca de aliados mas encontrou grandes desafios pelo caminho! Espero que gostem da história desse personagem inspirado em nossas raízes brasileiras! Um abra?o a todos!