O que irá acontecer quando eu aceitar a minha dor?
I
- Por que n?o me contou? Allenda interpelou o pai. - Você sabia quando conversamos alguns dias atrás – acusou. – Por quê?
- Muita informa??o ruim ao mesmo tempo, filha – se justificou.
Allenda o olhou, e sua raiva foi diminuindo, até ser apenas um vazio terrível que tinha que encarar. E o vazio n?o estava em seu pai e em nada à sua volta; estava dentro dela mesma. Era ela o vazio que sondava pelos seus olhos.
- Me diz a verdade que sabe, por favor – pediu num fio de voz.
- O Uivo... Ele está desenvolvendo a capacidade de se transformar em dem?nio – sussurrou, preocupado com a filha.
- Ent?o quando ele atacou o comandante...
- N?o, parece que foi depois, quando estava voltando para o acampamento. Um lobisomem teve o azar de encontrá-lo. Esse lobisomem foi poupado no último minuto, e relatou que Uivo parecia envolvido em sombras muito perigosas. Umas aves depois relataram que viram dois dem?nios lutando numa montanha, e disseram que reconheceram Uivo como sendo um deles. E ainda há um relatório que fala que ele quase atacou o grupo de Danbara, quando lutava ao lado dele contra os sombras, porque acabou se poderando em dem?nio.
This novel's true home is a different platform. Support the author by finding it there.
Adanu sentiu a dor dela, os olhos parados e tristes nos seus, tentando entender tudo o que acontecia, inclusive dentro de seu cora??o.
- Há algo mais, pai? – gemeu assustada, por fim.
- N?o filha...
Adanu suspirou pesadamente.
- Ele está ainda com Danbara?
- N?o, ... Parece que eles o expulsaram...
- Bem feito ent?o, n?o é mesmo? – sussurrou abatida para as sombras da tarde que avan?avam.
- Sabe, filha, sei o que seu cora??o sente. Como se pode vencer uma tal escurid?o que está na alma da gente, quando todos te negam um facho de luz?
- Ele poderia se tornar a própria luz, e n?o ficar esperando algo de outros cora??es sombrios – murmurou baixinho, se afastando pensativa.
II
Teme por ela? – Tenebe perguntou, enquanto os dois a observavam discretamente de longe.
Adanu se voltou para ele, tomado de tristeza e preocupa??o.
- Quando eu contei a ela do dem?nio, e ela sentiu toda a luta terrível dele, eu realmente fiquei muito apreensivo, mas...
- Achou que ela fosse atras dele?
- Sim, temi por isso - confessou.
- Teria deixado que ela fosse?
- N?o poderia impedi-la. Falaria com ela, mas... Temi que ela fosse, que se desentendessem... Está tudo muito confuso para eles, ainda mais agora com esse complicador do dem?nio. E ainda tem aquele dem?nio que tentou matar Uivo, que pode estar rondando o menino. Ah, Tenebe, está tudo muito complicado – sorriu abatido. – Sabe de alguma coisa a mais do que os boatos e notícias dos conselhos, meu amigo?
- N?o, infelizmente n?o. A mente dele está muito confusa, e n?o consigo entrar em contato. Mas, ele é Uivo, e sei da for?a da alma dele. Ele vai conseguir vencer isso – sofreu.
Adanu viu a dor no velho amigo humano. Comovido acariciou seu ombro, dando-lhe um sorriso encorajador.
- Eu sei que você está certo. Sabe, em mudan?as assim t?o drásticas e profundas, primeiro surge o caos, como um redemoinho tempestuoso. Ele vai conseguir sim. Apenas precisa de tempo, e de nossos pensamentos bons... – suspirou.