N?o demorou para Ana entender como controlar o elegante navio.
Ela passou horas mergulhada no estudo do pequeno pingente, entendendo cada tra?o minucioso da runa gravada.
“Algo assim realmente n?o podia ser t?o simples.”
Percebeu que o objeto era muito mais complexo do que aparentava à primeira vista, repleto de nuances que escapavam a olhos desatentos.
Cada tra?o era um enigma, um mistério esculpido em metal antigo. O que parecia uma simples grava??o revelava-se um labirinto de inscri??es microscópicas, t?o elaboradas que apenas utilizando vidros improvisados, lentes rudimentares e a luz filtrada do sol era possivel discernir seus segredos — uma gambiarra que, para sua surpresa, funcionou perfeitamente.
Assim, viu padr?es que dan?avam diante dos seus olhos, seguindo a análise como se estivesse dissecando uma criatura viva. Tudo aquilo era como um mapa, ou talvez um idioma feito de linhas, curvas e pontos que simulavam um circuito de comandos ocultos, codificados em camadas sobrepostas.
O navio era um reflexo de cada detalhe daquela estranha runa.
Para controlá-lo, ela precisava de contato direto com o pingente. Felizmente, n?o necessariamente sua m?o deveria estar em torno dele, mas sim qualquer mínimo toque já era o suficiente, desde que um fluxo constante de mana alimentasse a conex?o.
O controle era incrivelmente sensível, e curiosamente íntimo.
Lia cada inten??o, cada impulso de sua mente, cada fragmento de pensamento e cada varia??o emocional.
Tudo parecia influenciar a estabilidade da embarca??o.
Era um sistema perigoso, uma simples distra??o poderia significar um desastre, fazendo o navio mergulhar como uma pedra, despeda?ando-se em uma explos?o espetacular.
Exigia uma concentra??o constante e precisa.
Foco absoluto.
Mas para Ana?
Isso n?o era um problema.
Na verdade, era como se o próprio destino tivesse implantado um novo membro em seu corpo — um tit? dos céus, respondendo ao menor dos seus caprichos.
Após algumas voltas ao redor da taverna, a rainha já estava confortável o suficiente para conversar com os demais, como se estivesse dirigindo uma carro?a qualquer.
Conduzir aquela monstruosidade era como andar de bicicleta.
Divertido. Natural. Instintivo.
Finalmente confortável, pousou o navio pela primeira vez.
Assim que o casco tocou o ch?o, ficou evidente que algo estava errado.
Um som seco, como o primeiro eco de um aviso.
E ent?o, vieram os v?mitos.
Talvez fosse devido ao pingente estar em sua posse, por sua mana ser diferente da dos outros ou por alguma bobeira cósmica que ela n?o se importava em entender profundamente, mas a rainha n?o sentia nada estranho em seu próprio corpo.
No entanto, n?o era o mesmo para os outros sobreviventes.
Todos, até ent?o at?nitos enquanto observavam as manobras na estrutura voadora, caíram em uma onda de fraqueza.
Um após o outro, come?aram a desmoronar de joelhos, curvando-se, com as m?os trêmulas apoiadas no ch?o, ofegantes enquanto seus corpos tremiam.
“é bem problemático...”, pensou Ana, franzindo o cenho.
Sem perder tempo, saiu apressadamente dali, deixando o cenário de náusea para trás.
This story is posted elsewhere by the author. Help them out by reading the authentic version.
Depois de algumas horas de observa??o e análise, finalmente entendeu o motivo.
"Essa merda é uma devoradora de mana."
O navio n?o apenas navegava pelos céus — ele se alimentava.
Sugava a mana n?o apenas da atmosfera, mas de qualquer coisa viva ao seu redor. Era como uma criatura faminta, silenciosa, insaciável.
Com mais alguns testes cuidadosos, identificou que, dos mais de cento e cinquenta sobreviventes, menos de cinquenta conseguiram embarcar ao seu lado sem desmaiar.
E mesmo esses poucos ainda apresentavam sintomas leves: tontura, fraqueza muscular, uma sensa??o de vazio que os fazia parecer mais humanos do que nunca.
Era como se seus corpos estivessem sendo for?ados a retornar a um estado "normal", for?ados a viver por um breve momento como se nunca tivessem tocado a mana.
— N?o tem o que fazer — disse Ana, dando de ombros. — é ótimo ele conseguir se manter no ar apenas roubando mana da atmosfera, mesmo com esse efeito colateral.
Alex, lutando para se manter de pé, parecia estar carregando o peso de uma montanha. Sua nova armadura, que cobria de cima a baixo seu avermelhado corpo corrompido, agora era uma ancora que o arrastava para o ch?o.
— Mas isso n?o é perigoso? — perguntou ele, o rosto contraído de esfor?o. — N?o podemos lutar assim.
— Claro que é perigoso. — respondeu a rainha, com um sorriso cínico e um brilho sádico nos olhos.
Deu um tapinha no casco do navio, como se estivesse elogiando silenciosamente o artista invisível que o construiu, e logo continuou.
— Mas também é útil. E muito.
— útil?
Como se já esperasse a pergunta, Ana levantou três dedos em frente ao rosto do guerreiro. Com a outra m?o, segurou o primeiro deles.
— Qualquer inimigo que tentar invadir vai sofrer o mesmo tipo de consequência. E isso é ótimo, pois n?o v?o estar acostumados como nós.
Alex respirou fundo, aceitando o argumento enquanto lutava para n?o cair. Antes que pudesse falar, Ana segurou o segundo dedo, e com um abra?o largo, puxou Miguel para perto.
— Também temos esses caras! Aqui v?o realmente brilhar!
O secretário de pedra deu um sorriso cansado, mas n?o resistiu ao pux?o da rainha, apenas parecendo meio envergonhado.
— E, claro, n?o falei do ponto mais importante… — murmurou Ana em voz baixa, diferente do alto anúncio que fez a um instante atrás.
Ficando em silêncio, manteve o último dedo levantado, e uma pequena chama escura surgiu ao redor de suas unhas negras, sumindo em um piscar de olhos.
Alex apressadamente se afastou, quase caindo, mas logo se ajeitou enquanto rangia os dentes.
Era ótimo que Ana ainda pudesse usar sua mana reversa em um ambiente em que todos estavam suprimidos, mas havia algo além. Por mais que pensasse que já tinha se acostumado aquele poder escuro, mas por algum motivo havia voltado a sentir arrepios durante as manifesta??es da rainha. Era mais denso do que antes, mais aterrorizante.
— Faz sentido… Ainda assim, é horrível.
Ana gargalhou alto, uma risada que ecoou pelo ar como um trov?o inesperado em um dia calmo.
— Há momentos em que ser fraco é bom. Você vive reclamando que é difícil fazer uma academia para corpos que conseguem levantar carros, n?o é?
Alex bufou, franzindo o cenho.
— é diferente.
— Porra nenhuma! — Ana deu um tapa amigável no ombro dele, que quase o derrubou com o peso da armadura. — Aproveita que tá sem mana pra treinar de verdade agora. Acabou a moleza.
Alex resmungou algo incompreensível, mas um sorriso surgiu no canto de sua boca.
— Tá, tá… Mas e ent?o? Já vamos entrar? — perguntou enfim o guerreiro, com a curiosidade finalmente vencendo o desconforto.
O sorriso de Ana desapareceu, substituído por uma express?o mais séria, os olhos fixos na porta metálica que levava ao interior do navio.
— Estava esperando as coisas acalmarem. N?o sei o que vai ter lá embaixo.
Se co?ava para entrar lá desde o primeiro momento em que pisou a bordo.
Mas se conteve.
N?o confiava na Colecionadora.
Agora que entendia o básico do funcionamento da embarca??o, sentia-se mais preparada.
Respirou fundo, olhou para seus dois companheiros, e assentiu.
— Vocês vêm comigo.
Com um gesto simples, o som do mecanismo ecoou, um estalo metálico seguido por um leve sibilo de ar comprimido.
A porta se abriu, revelando um corredor escuro iluminado por luzes que variavam entre laranja e branco, trazendo consigo um cheiro metálico e estéril, como se o navio guardasse sua própria atmosfera.
Quer apoiar o projeto e garantir uma cópia física exclusiva de A Eternidade de Ana? Acesse nosso Apoia.se! Com uma contribui??o a partir de R$ 5,00, você n?o só ajuda a tornar este sonho realidade, como também faz parte da jornada de um autor apaixonado e determinado. ??
Venha fazer parte dessa história! ??
Apoia-se:
Discord oficial da obra:
Galeria e outros links: