Eu era um homem de 27 anos. Hum, ex-militar. Fui expulso por brigar com um oficial superior... um bando de vagabundos. Eu era bom no que fazia. Já cansei vidas em nome desse país de merda. Sempre fui habilidoso com armas e tinha um forte senso de lideran?a, mas meu temperamento… bem, ele sempre foi um problema.

  Já fui casado duas vezes. Minha primeira esposa, eu realmente amava, mas vacilei. A segunda? Me deixei por causa do meu temperamento. Pelo menos foi o que ela disse. Mas eu sei a verdade… aquela puta deve ter me traído. Sei que meu temperamento é instável, tentei mudar, tentei me controlar, mas quando percebi, já era tarde. Perdi tudo. Minha carreira, minha esposa, minha família. Nem mesmo meus irm?os conversaram mais comigo.

  Nunca fui bom na escola, n?o fiz faculdade. E em Angola, sem estudo, a vida é um inferno. O exército foi minha saída. Mas, como sempre, minha raiva me colocou em problemas. Briguei com superiores, bati em um deles… um desgra?ado mimado. N?o me arrependo. No final, perdi o emprego e fui preso por três meses depois de apontar uma arma para aquele infeliz.

  Agora, estou aqui… sem dinheiro, sem futuro, sem nada.

  Que se foda tudo. Pelo menos o álcool nunca me abandonou.

  ---

  Eu cambaleava pelas ruas escuras, completamente embriagado, quando escutei uma discuss?o. Um casal discutiu do outro lado da rua.

  — De onde você está vindo? — o homem disse, a voz de raiva.

  — Eu estava na casa da minha amiga — respondeu a mulher, hesitante.

  — Com essa roupa? Essa hora?! Você só pode estar me treinando, sua vagabunda!

  A tapa veio seca, ecoando na rua silenciosa. A mulher caiu no ch?o, segurando o rosto.

  Naquele instante, meu sangue ferveu.

  N?o era só aquela cena. Aquilo me lembrou do meu pai. Da forma como ele batia na minha m?e. Do olhar de medo dela.

  Antes que eu percebesse, já tinha avan?ado no homem e desferido um soco com toda a minha for?a. O impacto foi brutal. Ele caiu no ch?o cuspindo dois dentes. Mas eu também caí… fiquei bêbado demais para manter o equilíbrio.

  Tentei me levantar, mas minha cabe?a girava. O outro homem se cantou primeiro, furioso.

  — Quem diabos é você, sua merda?! — falou ele, apontando para mim. — é com esse cara que você tá me treinando?!

  — Eu nem conhe?o ele! — a mulher respondeu, ainda assustada.

  — Cala a boca! —ele Berrou. — Olha só o que eu vou fazer com sua amante!

  Foi rápido demais.

  Eu vi o brilho da lamina antes de sentir a dor.

  A primeira facada perfurou meu est?mago. Depois, fora. é mais uma.

  A dor era sufocante. Meu corpo ficou mole.

  — O que você fez, Marco?! — a mulher próxima, desesperada.

  — Isso é pra ele aprender a n?o se meter com a mulher dos outros — Marco cuspiu no ch?o e saiu correndo.

  Tentei falar, mas só consegui gemer. A mulher se ajoelhou ao meu lado, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

  — Eu vou procurar ajuda, aguenta firme!

  Mas eu sabia.

  Eu sabia que n?o iria sobreviver.

  Ent?o é assim que acaba?

  UE? Morrendo sozinho em uma rua suja? Sem esposa, sem filhos, sem um legado?

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  Que merda…

  Eu ainda tinha tanta coisa pra fazer…

  Mas era tarde demais.

  Volume 2 – O Julgamento

  Acordei em uma sala completamente branca. Eu n?o consegui ver meu corpo, mas minha consciência estava ali.

  — Eu estou vivo?! Onde diabos eu estou? Isso é o inferno? N?o… branco demais para ser o inferno. Será que fui bom o suficiente para ir para o céu?

  Minha mente estava cheia de perguntas, mas antes que pudesse raciocinar, um homem apareceu diante de mim. Ele tinha asas e um manto brilhante, mas n?o tinha rosto.

  — Sr. André Francisco. — A voz dele era firme e imponente.

  — Quem é você?! Como sabe meu nome?! — curioso, confuso.

  — Eu sou um anjo. N?o tá na cara?

  — E por que diabos eu estou aqui?! E por que n?o consigo sentir meu corpo?! Nem eu mexo?!

  O anjo suspirou.

  — Você tá aqui para um banho de piscina. Você é idiota? Alguns humanos s?o inteligentes, mas outros… s?o completos idiotas.

  Ele riu, como se estivesse se divertindo com a situa??o.

  — Esse é o seu julgamento. Hoje será decidido se você vai para o inferno ou para o Reino dos Céus.

  Cruzei os bra?os, irritado.

  — E como você vai decidir isso? N?o vou vender computador nenhum. Vai me julgar baseado em quê, seu anjo idiota?

  — Tudo o que você está falando agora está sendo anotado e vai contar na sua senten?a.

  — Mas foi você que me chamou de idiota!

  Respirei fundo. No fundo, eu já sabia meu destino.

  — é óbvio que eu vou para o inferno… Já matei gente, bebê até cair várias vezes… Só me manda logo pra lá.

  O anjo cruzou os bra?os.

  — Você sabe quantos humanos querem sair do inferno? Você já ouviu falar sobre o qu?o quente é aquele lugar. A Bíblia descreve o inferno, e eu posso te garantir… tudo o que está escrito lá é verdade. Ainda quer ir?

  Inglês: segundo.

  — Ent?o… o que vai acontecer comigo?

  O anjo me contou por alguns segundos antes de responder.

  — Seu caso é complicado. Você tirou vidas, fez coisas horríveis… teve atitudes questionáveis. Mas ao mesmo tempo, sempre acreditei no Senhor. Nunca blasfemou ou zumbiu Dele. Ou seja, você foi um homem ruim, mas sempre respeitou a Deus. Seu destino está na balan?a… pode ir tanto para o céu quanto para o inferno.

  Bufei, impaciente.

  — Ent?o que merda você vai fazer?!

  De repente, o anjo mudou de postura. Sua voz ficou mais grave, e um arrepio percorreu meu corpo.

  — Me?a suas palavras, humano.

  O ambiente ficou pesado. Por um instante, senti um medo que nunca havia sentido antes.

  O anjo suspirou de novo.

  — Vocês, humanos, s?o ingratos… Tem sorte porque o Criador ama vocês, independentemente do que faz.

  Ele me encarou.

  — Seu caso é especial. Você n?o terá uma segunda chance…

  — Espera… isso é sério? E onde está o Criador? Quero vê-lo.

  O anjo riu.

  — Você acha que pode ver o Criador assim t?o facilmente? Nem mesmo pode ver meu verdadeiro rosto.

  — Ent?o… o que vai acontecer comigo?

  — Você terá uma segunda oportunidade. Mas há regras.

  — Eu… eu n?o sei se quero voltar.

  — Ent?o vamos encerrar o caso e mandá-lo direto para o inferno.

  — Ei, calma aí! Também n?o precisa apressar as coisas! Só n?o queria voltar pra aquela minha vida miserável…

  O anjo sorri.

  — Aqui no Reino dos Céus, você sempre terá uma escolha.

  — Ent?o… eu vou renascer?

  — Sim, mas seu caso será especial. Você renascerá com suas memórias intactas. Essa será sua segunda oportunidade.

  — Qual é o truque?

  – Simples. Você terá que seguir três regras. Caso alguma delas… seu destino será o inferno.

  Inglês em segundo.

  — E quais s?o essas regras?

  — Primeiro: você deve ser crist?o.

  — Segundo: n?o pode blasfemar nem buscar outros deuses.

  — Terceiro: n?o pode se tornar um vil?o.

  — Vil?o?

  — Isso mesmo. Você n?o pode se tornar um crime, nem enfraquece a comunidade.

  — E o resto?

  — O resto s?o apenas pedidos que posso fazer a você. Você terá liberdade para escolher se irá segui-los ou n?o.

  Murmurei baixinho, tentando evitar que ele ouvisse:

  — Eu n?o vou seguir nenhum pedido seu…

  O anjo me ignorou e continuou:

  — Mas se quebrará uma das três regras, irá para o inferno… e sofrerá duas vezes mais do que qualquer um que já esteja lá.

  Senti um arrepio na espinha.

  — Ent?o, no fim, a escolha é minha?

  – Sim. Mas se for “bonzinho” e ainda assim quebrar as regras… seu destino será o mesmo.

  Cruzei os bra?os.

  — Resumindo: tenho três regras obrigatórias, m

  as o resto fica por minha conta.

  O anjo sorri.

  – Exato. Parece que finalmente entendi.

  De repente, senti uma for?a me puxando.

  — Agora, você pode ir.

  — Ir para onde?!