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O novo mundo

  Eu estava acordado. Sentia-me nos bra?os de uma mulher branca que me segurava com firmeza. Como assim essa mulher está me segurando desse jeito? Tenho certeza de que n?o sou t?o leve assim... Ah, é verdade, eu reencarnei. Ent?o, devo ser um bebê agora.

  Ela me entregou para outra mulher, provavelmente minha nova m?e. Ela era branca, de cabelos loiros. Hm... Acho que ela é europeia.

  Espera aí... EU REENCARNEI BRANCO?!

  Aquele anjo desgra?ado me fez nascer de outra cor? Era o que eu pensava até notar melhor meu redor. A mulher que me pegou no colo era branca, ent?o presumi que eu também fosse. Mas, ao olhar direito, vi um homem ali perto. Ele parecia ter uns 30 anos, era um pouco gordinho... e negro. Se ele for meu pai, ent?o eu sou mesti?o.

  N?o que eu tenha problema em ser branco, mas eu amo a minha cor. N?o queria ser diferente.

  — Gsjsjj sjsjs hshsh jshsbs — falou a m?e.

  — Sjjss jsisis jsisis usisiu — respondeu o pai.

  — Hsjsjsi sjisissj sjsjisis — acrescentou a outra mulher, provavelmente a parteira.

  Eu n?o conseguia entender o idioma deles. Sei um pouco de inglês, ent?o tenho certeza de que n?o era isso. Parecia alem?o... Mas nunca falei alem?o, ent?o só posso estar supondo.

  De repente, os três come?aram a agir de forma estranha. A m?e tinha lágrimas nos olhos e o pai estava com um olhar triste. Só a parteira parecia manter uma express?o séria.

  Ah... Já sei. Eles acham que tem algo de errado comigo porque eu n?o chorei ao nascer.

  Que se fodam, eu n?o vou come?ar a chorar só porque esperam isso de mim. Sou adulto demais pra isso.

  A mulher come?ou a solu?ar. O pai franziu a testa, preocupado. O clima ficou pesado.

  Tá bom, tá bom, eu vou chorar. Agora parem de fazer essas caras!

  — Uaaaaaah! — comecei a berrar.

  Os três ficaram aliviados. Minha m?e come?ou a chorar de alegria e falou alguma coisa que n?o entendi. Ela me encostou no peito.

  Espera aí... N?o me diga que você vai me dar de mamar!

  …

  Oh, que peitos.

  Se eu estivesse de pé, já teria caído pra trás com um sorriso sacana.

  Provei do leite.

  …AHH!! Como isso pode ser t?o doce? T?o leve? Isso é mesmo leite?!

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  Ent?o é assim que é o leite materno... Melhor que cerveja!

  Tá, talvez seja exagero... Mas, porra, isso é bom pra caralho.

  ---

  Cinco meses depois

  Agora consigo entender um pouco do idioma deles. Acho que, por ser bebê, minha mente aprende mais rápido.

  Descobri que tenho dois irm?os mais velhos: Sara e Gabi.

  Sara é uma garotinha bonitinha, de pele clara e cabelo ruivo. O que é estranho, já que nossos pais n?o têm cabelo ruivo... Será que meu pai levou um chifre?

  Já Gabi é loiro igual à mam?e. Ele tem uns cinco anos, enquanto Sara tem uns três.

  E adivinha o nome que deram pra mim?

  Lázaro.

  QUE MERDA DE NOME!

  Esses caras têm a boca podre pra escolher nome, viu?

  Aliás, onde tá minha m?e? Quero mais do leitinho dos anjos.

  Se eu pudesse vender isso, ficaria rico.

  — Olha a minha fofura, você está com fome? — disse minha m?e, sorrindo.

  — Ele mama bastante — comentou meu pai.

  — às vezes, ele só fica pegando nos peitos sem mamar... Mas ele é um bom garoto, n?o chora — disse ela, rindo.

  — Mam?e, posso ver o bebê? — perguntou Gabi.

  Vaza daqui, moleque. Eu n?o vou compartilhar meu leite com você.

  ---

  Mais dois meses depois

  Já consigo andar.

  Sou um soldado, n?o posso ficar engatinhando por aí feito um fracote.

  Comecei a explorar a casa. Aos poucos, percebi que esses caras s?o muito pobres. N?o vejo TV, celular, ar-condicionado, lampadas... nada!

  O que mais tem aqui s?o velas, chaminés e móveis antigos de madeira. Pelo menos s?o bonitos. Mas n?o há nada moderno.

  Que merda.

  Tive uma segunda chance na vida e ainda assim nasci pobre.

  Por que o Senhor n?o gosta de mim, Criador?

  Será que n?o dava pra nascer filho de uma celebridade? Cristiano Ronaldo? Bill Gates?

  Outra coisa que notei: minha família tem uma loja de doces.

  A gente vive no andar de cima, e o térreo é a loja.

  Descobri isso pelo cheiro.

  Eu n?o podia descer sozinho, porque meus pais tinham medo que eu caísse da escada. Mas, às vezes, minha m?e me levava lá embaixo.

  Foi quando olhei pela janela e percebi algo bizarro.

  A cidade era cheia de prédios baixos, de dois andares no máximo. As ruas eram movimentadas e a maioria das pessoas era negra.

  Mas o que mais me irritou...

  N?o havia carros.

  Só carro?as puxadas por cavalos.

  E algumas pessoas esquisitas, que usavam fantasias de gato para prender... um animal com orelhas de gato?

  Que porra é essa?!

  Eu fui parar no passado?!

  Fiquei deprimido.

  Esse anjo desgra?ado só pode estar de sacanagem comigo.

  Me fez nascer numa família de padeiros... e ainda no passado?!

  Pelo que vejo, deve ser por volta do ano 1000. N?o tem nada moderno por aqui.

  Um dia, nossos pais receberam algumas visitas inesperadas.

  Eu estava no colo da minha m?e quando a porta se abriu. Dois indivíduos entraram na sala com express?es severas. Um deles era um homem alto e musculoso, vestindo uma armadura metálica simples, mas bem cuidada. Ele tinha um olhar duro e intimidador. Ao seu lado, uma mulher de aparência peculiar trajava roupas justas de couro, e o que me chamou aten??o foram suas orelhas e cauda felinas. De perto, pareciam incrivelmente reais.

  Meu pai se levantou rapidamente, demonstrando nervosismo. Minha m?e, por outro lado, apertou minha pequena m?o contra seu peito, como se instintivamente quisesse me proteger.

  — Viemos cobrar a dívida — disse a mulher-gato, cruzando os bra?os e encarando meu pai com desdém.

  — Eu… eu ainda n?o tenho todo o dinheiro — respondeu meu pai, com um tom cauteloso.

  — Já faz meses que esperamos. O prazo acabou. — A voz do cavaleiro era grave, carregada de impaciência.

  — Por favor, só mais um tempo — implorou minha m?e. — Nosso comércio ainda está se estabilizando, mas já conseguimos alguma coisa. Só precisamos de mais alguns meses para pagar tudo.

  A mulher-gato suspirou com impaciência e olhou para o cavaleiro. Ele bufou, claramente irritado, e ent?o caminhou lentamente até meu pai. O silêncio na sala ficou pesado.

  — Já demos tempo suficiente. — A voz dele era fria.

  Antes que qualquer um pudesse reagir, o cavaleiro ergueu o punho e acertou um soco violento no rosto do meu pai. O impacto foi t?o forte que ele caiu no ch?o, derrubando uma cadeira ao lado.

  — Papai! — gritou Gabi, tremendo de medo.

  Minha m?e me segurou ainda mais forte e cobriu minha cabe?a contra seu peito, como se quisesse me impedir de ver aquilo. Mas eu vi tudo. O sangue escorrendo do canto da boca do meu pai, seu olhar assustado enquanto tentava se levantar.

  Sara come?ou a chorar baixinho.

  — Eu n?o sou um homem paciente — continuou o cavaleiro, limpando o punho como se tivesse apenas espantado um inseto. — Vocês têm um mês. Se n?o tiverem o dinheiro até lá, sua lojinha vai virar cinzas… e sua família vai pagar o pre?o.

  A mulher-gato riu de leve, como se estivesse se divertindo com a situa??o.

  — Espero que sejam mais eficientes vendendo doces do que administrando dinheiro. Vamos ver o que acontece no próximo mês.

  Ela ent?o puxou o cavaleiro pelo bra?o e os dois saíram, deixando a porta aberta. O vento frio da rua invadiu a sala, mas a sensa??o de medo que deixaram para trás era ainda pior.

  Meu pai ficou no ch?o por um tempo, respirando com dificuldade. Minha m?e se ajoelhou ao seu lado, tocando seu rosto com cuidado.

  — Você está bem? — sua voz tremia.

  Ele assentiu, mas n?o disse nada.

  Eu, mesmo sendo um bebê, senti algo crescer dentro de mim. Uma raiva profunda. Esse mundo é cruel. E se um dia eu quiser proteger minha família, vou precisar de

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