Cora??o por cora??o, solid?o por solid?o, sublima??o. A música que ou?o n?o vem sozinha, vem com sorrisos e promessas. Que o mundo cumpra suas promessas. Ah, como esperei por isso...
I
Uivo se postou à frente da m?e-da-mata. Ela era pequena, ainda uma curumim.
O anaquera o observou, o corpo ágil se movendo em balan?o, avaliando.
- N?o estou atrás de você, on?a. Vá embora! – avisou, a voz estranha de silvo e urro.
- N?o fará mal a ela – Uivo avisou. – Vá embora, suma na mata, vá para seus domínios. Ele n?o é aqui.
- Meu domínio? – riu a criatura, olhando para os lados. – Aqui, tudo aqui é meu domínio. Quem é você para fazer frente aos meus desejos?
Uivo deu uma risada debochada.
- Se Anena souber que está ca?ando a filha dela, aposto que você vai se arrepender amargamente.
O dem?nio o olhou, se virando completamente para ele.
Uivo sorriu. Com um empurr?o suave mandou a menina se afastar.
- Vá embora, curumim. Ele já tem outro alvo. Vá, corra! – sussurrou satisfeito.
De rabo de olho viu a menina sumir no mato, e suspirou aliviado.
- N?o devia ter interferido. Sua vida pela dela. Sim, bem melhor. Mas, prefiro as duas...
Para seu desespero o dem?nio sumiu, tal a velocidade que disparou.
Um grito fino e apavorado na mata, e logo o dem?nio surgiu, a pequena curumim em sua garra, movendo-se debilmente.
Sem pensar Uivo se poderou com toda a for?a e atacou, atingindo o dem?nio no bra?o, o que libertou a menina que caiu para o lado, onde ficou imóvel.
O anaquera, conferindo que a menina estava imóvel e n?o iria fugir, observou com prazer o estranho à sua frente. Com um urro come?ou a avan?ar, aumentando lentamente a velocidade, para dar tempo ao intruso de juntar todo o medo que podia em sua alma.
Uivo tirou os olhos da menina desmaiada e se concentrou no dem?nio que avan?ava.
Uivo se preparou, mas n?o foi rápido o suficiente, e o golpe o atingiu dolorosamente. Baixou os olhos e viu os sulcos das grandes garras em seu peito e na barriga.
Com determina??o ignorou a dor.
- Ora, imbecil, só isso? Disseram que eram velozes, mas isso deve ser para os outros anaqueras, porque você...
O dem?nio, tomado de fúria, avan?ou novamente. Mas, desta vez, Uivo conseguiu bloquear seu ataque. Agachou e estendeu as garras, cortando com grande violência. O dem?nio urrou de dor e frustra??o.
Agora ele estava possesso.
Uivo sorriu debochado. Quanto mais ele ficasse raivoso mais dor poderia infringir, porque mais corpóreo ele ficaria. Torcia para que o nível alto de dor o fizesse desistir de continuar o confronto e os abandonasse.
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O dem?nio saltou e correu, quase o atingindo nas costas. Uivo saltou e caiu-lhe em cima. O dem?nio girou no ar e o lan?ou contra uma árvore, onde ele se cravou com as garras das quatro patas, os olhos duros fixos no anaquera.
Mas a velocidade do dem?nio foi imensa, e n?o conseguiu se desviar a tempo. A explos?o do ataque o atingiu com violência, e se viu prostrado, garras torturantes perfurando seus ombros, o mantendo contra o ch?o.
Usando toda sua for?a ignorou a dor e girou, as patas traseiras tentando atingir o dem?nio, que cravou as suas sobre as coxas de Uivo, que urrou de dor.
O dem?nio aproximou a cara da de uivo, on?a e puma, rostos humanos se fixando. O dem?nio parecia saborear cada ruga de dor, cada mínimo desespero. Nada falava, a respira??o curta e compassada, imobilizando o estranho nefelin.
- Agonia – sussurrou por fim. – Quanto tempo conseguirá resistir, nefelin?
- O suficiente para te destruir, dem?nio cretino – gemeu com um sorriso debochado na cara.
Ent?o o dem?nio virou a cara ao ouvir um silvo. Mas n?o conseguiu se desviar.
Uivo viu, com surpresa, a ponta de uma seta de fogo surgir no ombro do dem?nio, e logo uma outra em seu pesco?o.
O dem?nio retirou suas garras e come?ou a se levantar.
Com for?a Uivo o trouxe de volta, imobilizando-o, enquanto mais silvos se ouviam.
O dem?nio urrou de raiva e dor, buscando freneticamente o pesco?o de Uivo com suas presas. Uivo girou e as presas se fecharam sobre seu ombro e sobre as próprias patas do dem?nio, que afundou com mais violência as patas sobre Uivo.
A dor tirou o resto de suas for?as. Suas garras foram se recolhendo enquanto o mundo se afundava em sombras.
- Imbecil – sussurrou entre risos para as sombras que avan?avam, tomadas de silvos.
II
Allenda caiu em frente ao dem?nio que se levantava, trazendo Uivo nas suas garras da direita. Em sua mente apenas sentiu uma dor, vendo Uivo parecido com um trapo sem vida. Os bra?os arriados e moles, como mole estava todo o corpo. O sangue descia do ombro e da perna, conferiu.
Tirou os olhos e os fincou no dem?nio.
- Deixe-o e vá!
O dem?nio a avaliou, e avaliou ArrancaToco, ambos tomados de chamas. Com desprezo examinou Uivo, mole em suas garras. Como se nada daquilo tivesse importancia o deixou cair.
Lentamente levantou as garras à boca, lambendo o sangue que gotejava.
- Esses s?o meus. Suma, e ainda poderá ter algum tempo, porque eu estarei satisfeito.
Sem qualquer palavra Allenda avan?ou, o fogo crepitando violento. As facas de fogo cortaram fundo o dem?nio, que tentava se afastar das facas e das presas e cabe?adas violentas do queixada. Tomado de furor ensaiou resistência, mas acabou desistindo: a luta com Uivo e as flechadas o haviam deixado muito exposto aos ataques. Com um impulso tentou se afastar. Num golpe seco tomou Uivo do ch?o, carregando-o consigo enquanto se dirigia para onde estava a pequena m?e-da-mata.
Mas n?o havia conseguido ir muito longe quando várias flechas o fizeram desistir de levar o nefelin, que caiu pesadamente no ch?o, perto da menina.
Com um urro medonho, que reboou por dentro da floresta, o dem?nio se afastou em grande velocidade.
Mais que depressa Allenda se aproximou de Uivo, avaliando a extens?o dos ferimentos, enquanto ArrancaToco se acercava da crian?a.
Sentindo vibra??es no solo Allenda se virou, vendo ao longe várias pessoas se aproximando depressa. à frente do grupo ela viu uma m?e-da-mata, e suspirou aliviada, sabendo que o anaquera nem pensaria em voltar, e que tudo logo estaria bem.
Lentamente, sob o encantamento de Allenda, a respira??o de Uivo foi se regularizando e se fortalecendo.
Por fim ele abriu os olhos, for?ando um sorriso esgar?ado no rosto.
- A menina está bem? – conseguiu perguntar.
- Sim, ela está bem – falou Allenda com suavidade. – Você e suas manias – ralhou, afastando o corpo um pouco, o suficiente para Uivo ver a menina aconchegada no colo da m?e, os olhos agradecidos postos nos seus, enquanto ArrancaToco ainda a mantinha sob cuidados. – Por que se acha responsável por todos? Isto é loucura, e ainda vai te matar...
- Ah, Allenda, somos todos responsáveis uns pelos outros. N?o podemos viver de outra forma.
- é uma forma de viver – falou baixinho. – Uma forma bem nobre de viver... – sussurrou, lembrando-se de como Adanu admirava esse nefelin.
Uivo suspirou dolorido e sorriu satisfeito, sentindo o hálito revigorante de Allenda, que lentamente o curava.
- Que cheiro bom você tem... – suspirou bem baixinho.
- Achei que n?o gostasse de cheiro de... de que mesmo?
- Uma porquinha cheirosa – ele riu fracamente.
Allenda sorriu em paz.
- Agora fique quieto. Você nem mesmo tem for?as para pensar... – ordenou, aplicando um passe com suas m?os mornas sobre o grande ferimento do ombro, enquanto cantava baixinho uma suave can??o de cura.